terça-feira, 13 de janeiro de 2009

ORIGEM DO NOME DE SESIMBRA

Existe uma lenda que situa o nascimento de Sesimbra antes da fundação de Portugal.

Diz-se que, nessa época, já aquela região era terra de pescadores, mas o castelo ainda não existia e a população habitava o lado do monte onde mais tarde se construiria a fortaleza.
Era senhor daquelas terras um homem tirânico que de todos exigia vassalagem. Era ele quem concedia as autorizações de pesca, sem as quais nenhum homem poderia partir para o mar, nem sequer para pescar o sustento da sua mesa. Além disso, cobrava tributos sobre o pescado, sobre os barcos e sobre tudo quanto entendesse. Um desses tributos, velho hábito ancestral, obrigava todas as donzelas que iam casar a serem possuídas pelo tirano na véspera do matrimónio.
Homens e mulheres sofriam por este gesto mas ninguém ousava rebelar-se contra o senhor.
Certo dia, porém, Zimbra e Maria decidiram casar-se. Maria dispôs-se a aceitar fatalmente, o tributo da sua virgindade. Zimbra, contudo, não estava disposto a aceitar aquela exigência que nada fundamentava ou legitimava. E, assim, dispôs-se ele a desafiar o estabelecido.
Todos, e também Maria, o aconselharam a não lutar contra os desejos do velho tirano. Zimbra não deu ouvidos a ninguém, decidido como estava a que não acontecesse a Maria o mesmo que às outras raparigas. Inicialmente só na sua determinação, conforme se foi aproximando o casamento, Zimbra foi sendo rodeado e apoiado pelos outros jovens pescadores da aldeia. Tiveram discussões quase intermináveis sobre o que lhes aconteceria quando o tirano viesse a sentir-se desautorizado. Zimbra pôs cobro às discussões apresentando o seu plano: desceriam até à borda do mar e aí se estabeleceriam num povoado autónomo e livre de toda a tirania.
Isto pareceu tão simples e razoável a todos os pescadores rebeldes que dissiparam os medos e se entregaram inteiros à coragem de Zimbra. Tal era a confiança que depositavam no líder que quase perderam vontade própria… dizendo sempre que se falava no assunto:
― Se Zimbra quiser...
Zimbra quis porque não o tinha medo. No dia do seu casamento recebeu Maria e partiu monte abaixo até à praia. Com eles desceu um grupo de casais.
Chegados ao sopé, delimitaram, segundo velhos rituais, os limites da nova aldeia, sacrificando no centro um animal, como lhes haviam ensinado os seu avós, que tinham recebido o ensinamento de outros antepassados. Em seguida, ergueram os pilares das suas novas casas, pobres choupanas de madeira cobertas de ramos de árvores. Tudo isto fizeram manifestando uma alegria toda natural e no final reuniam-se dançando velhas danças que evocavam pescas maravilhosas e esquecidas.
Quando soube disto, o tirano, juntou quanta gente pôde e, sequioso de vingança, jurou não parar enquanto não desfizesse todas as esperanças de Zimbra e dos rebeldes.
Mas Zimbra e os habitantes do novo povoado sabiam o que os esperava. A pé firme, como quem espera o embate bruto do mar, esperaram a hoste do senhor. Estavam dispostos a tudo por Zimbra que lhes dera a sua coragem:
- Se Zimbra quiser...
E Zimbra quis, mais uma vez. Quando aquela bruta onda de gente embateu nos seus corpos, resistiram serenos porque tinham o conhecimento íntimo de que a fúria dura um momento. Calmos, desfecharam os seus golpes no inimigo que sobre eles se abatia e num gesto de sabedoria mataram o tirano e todos os seus homens.
Ficaram livres do julgo secular e injustificável dos tiranos da terra.
Agora era possível fazer do seu povoado uma terra de verdadeiros pescadores:
-Se Zimbra quiser...
E Zimbra, pela terceira e última vez, quis. De tal modo o quis que, muito tempo depois, quando Afonso Henriques conquistou o velho castelo fronteiro ao mar, era Sesimbra que lhe chamavam.



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